quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PROCURA-SE UMA FAMILIA

       

Agora que estamos no século 21, em plena “modernidade”, embalados por uma outra rede que nos vestiu um uniforme global pasteurizado e efêmero.
Agora que a comunicação se tornou supostamente mais fácil e o correio,  substituído por um click, agora que a caixa postal invadiu todos os lares, a sala se encontra vazia ...
Sim, falo da sala de Maricota e do deserto em que se transformou.
Não há mais piadas no salão nem o ping-pong de palavras versadas por uma família
que sempre esteve atenta aos movimentos,
que sempre zelou por seus encontros.
Não! Não há mais encontros nem encantos.
Apenas a solidão silenciosa de nossos pais e o amparo remunerado das acompanhantes.
Para onde foi a alegria? Seqüestraram a poesia? Esquecemos das raízes?
Alguém aí se lembra de que somos muitos, de que somos dez, de que também éramos tempestade, mas de que podíamos conjugar o plural de uma gramática diversa e infinita em seus afagos?
Alguém aí se lembra de que crescemos juntos em uma casa em Botafogo e de que provamos do mesmo caldo, de que fomos protagonistas de uma história efervescente, desfiada com leveza por essa dezena de loucos legais?
Sinto falta de todos vocês e fome de um afeto que ficou pela estrada.
Meu coração está catando os estilhaços dessa explosão e não vê saída pela frente além daquela que mamãe grudou na gente, que é tão bom de se mostrar, que não faz mal se derramar, que eu chamo de amor...


                                                         
à Maria Ottoni (in memoriam)


                              8.04.02

4 comentários:

  1. Emoção deságua em lágrimas
    pela beleza das palavras.
    O nó que se faz na garganta.
    A busca do sentimento de família perdido.
    Onde está o valor das coisas que esquecemos?
    Desabo inundada por essa avalanche de humanidade.
    Por quê me entrego aos caprichos do coração?
    O que resta de mim
    além das fronteiras do que sinto?
    A vida tem tão pouco sentido
    além do amor.
    Não quero podium nem premio.
    Quero colo.
    Quero morar num abraço.
    Neste milênio
    o que preciso é achar o meu pedaço.
    Encontrar o calor
    do meu verbo abolido.
    E nunca mais me desfazer da lembrança
    das manhãs em que o sol me atravessa
    e acalenta meus sonhos de algodão.




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    1. Obrigado por compartilhar este sentimento comigo e de uma maneira tão poética e cheia de ternura. Beijos.

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  2. Com o coração também irremediavelmente estilhaçado, mas sem esquecer minhas raízes nem a maravilhosa acompanhante que nossa mãe teve a sorte de ter, começo contando uma historinha sobre Mariazinha, que trabalhou para a nossa Maria querida, durante 40 anos e depois continuou a servir aos filhos da Maria, que somos nós, ao mesmo tempo em que plantou uma semente de amendoeira em sua casa, pensando em se aposentar, quando a árvore crescesse o suficiente para que ela pudesse ler sob sua sombra!
    Um dia, não muito belo, o aviso foi dado da maneira mais pitoresca e eufemística possível à nossa cunhada querida: A árvore estava dando sombra... Embora tenha eu sugerido, em tom de brincadeira, que ela fosse podada, fiquei encantada com o gosto pela leitura de Mariazinha e acho ser ela merecedora de um bom descanso. Sendo assim, já separei alguns livros para lhe mandar.
    E lembrei-me de uma música cuja letra informa de outro modo sui generis, por um crescendo de tragédias: Um animal de estimação havia morrido. No incêndio, involuntariamente provocado pelo desespero de um marido, que, vendo-se arruinado, se suicidara...
    Embora a letra acima seja trágica, a música é gostosa. Pena não poder anexá-la. Você seria até capaz de dançar, varrendo, por um tempo, os estilhaços.
    Falando em árvore,eu me "plantei" aqui para você me achar...
    Beijos.

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  3. Angela querida, que maravilha de depoimento, todo ele recheado de afeto e poesia; todo ele embrulhado em papel elegante, destes que escolhemos quando damos um presente inebriante. É com muito carinho e algumas lágrimas que leio e releio suas palavras embebidas no amor, prontas para a festa cotidiana que a vida assina em cena aberta! Obrigado pela luxuosa visita! Beijos.

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