sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O FUTURO QUE EU NÃO SEI


Se eu soubesse os nutrientes
que o seu olhar hospeda; espera, é surpresa.
Quer mesmo saber onde vai dar essa trilha?
Esse mato com cachorro e sobressalto
por onde nos lançamos
com a avidez dos seres vivos.
Não sei nomear o que existe entre nós,
o que resiste nas dobras de um querer
que não se esgota, que precisa ser gratuito,
que às vezes nos dá susto,
mas que deixa nas manhãs
um frescor que nem te conto.
Ponto.
A frase que vem só a vida vai contar.




domingo, 4 de novembro de 2012

A FOME QUE LEVAMOS NO OLHAR

Escrever,
desligar o holofote dos dias.
Enamorar-se de seu vazio. 
Pra que serve o desvario
os devaneios,
a dança de uma história
que não freia?
Onde vai parar a flecha da existência,
e a fome que levamos no olhar?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ESCOLA DE SONHOS


"No limiar do chão",
 onde pisamos com nossa humanidade,
 atrás de um sentido,
 de um achado que nos ensine
 o truque do sol
 quando oferece as manhãs
 em banquete para os seres.
 "No limiar de um chão",
 onde tentamos
 enredar os nossos sonhos,
 escrever a vida em fios improváveis,
 rios que encharcam
 risos que abraçam
 e legitimam nossa história.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

DECIBÉIS



A vida que grita no silêncio de todas as tardes,
que berra nos desassombros,
que faz alarde.
A vida que temos na agenda dos dias,
matéria fina, substrato incomum.
A vida que assina o tempero dos sonhos,
que anda na ponta dos pés
pra não acordar os amantes.
A vida urgente que não espera recado
nem deixa bilhete.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ABSOLVIÇÃO




 Melhor não compreender as contradições da vida humana,
 seus erros de dicção, sua pronúncia fora de hora.
 Melhor dizer o que te aflige,
 o que não foge ao compromisso de ser mais do que promessa,
 o que alimenta a liberdade e recebe amor pra sempre.
 Melhor deixar a madrugada lentamente preparar o tecido das manhãs.

domingo, 23 de setembro de 2012

ESCUTA ESSA CANÇÃO


Nathalia,
Usando as suas palavras,
de uma outra maneira: 
"Abra seu coração, transmita seu pedido,
Fale com pureza, sequestre a angústia,
Trancafie-a num porão.
Seja amada com leveza.
Ganhe um colo que te abrigue
na doçura do tempo".
Como disse o escritor Eduardo Galeano,
"somos o que fazemos, mas somos principalmente
o que fazemos para mudar o que somos".
A estrada é a artéria por onde corre
nossa vida.
Nessa matéria não dá pra saber
se o show é nosso, se a cena é aberta.
Nesse mundo de solidão,
a festa é interior, as dores pedem alimento,
o corpo fala com gestos
que se enamoram de sonhos
que se cercam de abraços,
que manifestam nossa humanidade.
Somos um monte de coisas em movimento
girando afetos,
alcançando órbitas diversas
esticando o olhar pela vida afora,
destelhando tristezas,
sonhando com a melhor brincadeira de todas,
a de amar alguém e chega.
Um beijo, meu amor.

23.09.12

domingo, 26 de agosto de 2012

VIDA ANUNCIADA


                                               Pra acompanhar os meus sonhos,
                                               Marina canta uma linda canção.
                                               Pra acompanhar meus impulsos
                                               a vida descobre, revela, descortina.
                                               Faz de mim uma pele nova,
                                               inaugura células,
                                               inventa histórias boas de se ouvir.
                                               Eu gosto da vida porque não tenho pra onde ir,
                                               porque não temo surpresas.
                                               Às vezes vozes me falam,
                                               indicam caminhos, apontam tesouros.
                                               Às vezes sigo nuvens,
                                               brinco com a mudança
                                               das formas de algodão.
                                               Eu gosto da vida
                                               porque ela não junta teia
                                               e me acorda todo dia de manhã

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PROCURA-SE UMA FAMILIA

       

Agora que estamos no século 21, em plena “modernidade”, embalados por uma outra rede que nos vestiu um uniforme global pasteurizado e efêmero.
Agora que a comunicação se tornou supostamente mais fácil e o correio,  substituído por um click, agora que a caixa postal invadiu todos os lares, a sala se encontra vazia ...
Sim, falo da sala de Maricota e do deserto em que se transformou.
Não há mais piadas no salão nem o ping-pong de palavras versadas por uma família
que sempre esteve atenta aos movimentos,
que sempre zelou por seus encontros.
Não! Não há mais encontros nem encantos.
Apenas a solidão silenciosa de nossos pais e o amparo remunerado das acompanhantes.
Para onde foi a alegria? Seqüestraram a poesia? Esquecemos das raízes?
Alguém aí se lembra de que somos muitos, de que somos dez, de que também éramos tempestade, mas de que podíamos conjugar o plural de uma gramática diversa e infinita em seus afagos?
Alguém aí se lembra de que crescemos juntos em uma casa em Botafogo e de que provamos do mesmo caldo, de que fomos protagonistas de uma história efervescente, desfiada com leveza por essa dezena de loucos legais?
Sinto falta de todos vocês e fome de um afeto que ficou pela estrada.
Meu coração está catando os estilhaços dessa explosão e não vê saída pela frente além daquela que mamãe grudou na gente, que é tão bom de se mostrar, que não faz mal se derramar, que eu chamo de amor...


                                                         
à Maria Ottoni (in memoriam)


                              8.04.02

terça-feira, 14 de agosto de 2012

STREAP TEASE


                                   Tirar
                                          a roupa
                                                    da poesia.
                                   Rasgar
                                          suas
                                                vestes
                                                    de rainha.             

VEREDICTO




O tribunal que me condena
à solidão é o mesmo
que me acusa
de subjetividade em demasia.
Não é de bom tom
possuir idiossincrasias.
A sentença que me leva
à solitária foi lavrada
no cartório de minhas aflições
e pode ser lida nas entrelinhas
de papéis que se dissolvem,
no subtexto
                                                     de um roteiro extraviado  

domingo, 5 de agosto de 2012

NATHALIA

Que o nosso amor seja ensolarado
e que não perca de vista a paisagem
que entra pela janela do mundo.
Que também saiba ser silêncio,
desses que a manhã carrega em seu corpo juvenil.
Que se entrelace e se divida em mil
e recupere o riso quando a noite exibir
seu manto irrequieto de estrelas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MEU TEMPLO É OUTRO


                                         Suspeito de deuses
                                         que não trazem canção;
                                         só vigilância e oração.
                                         Eu quero deuses
                                         que me deem atenção
                                         e não me tragam 
                                         um só sermão.
                                         Quero deuses
                                         que falem mais baixo
                                         e não prometam
                                         milagres pra mim.           

LETRAS


                                   Versos expressam o burburinho
dos interiores,
derramam seus mundos,
perpetram suas dores
                                   e somem na multidão de todas as vidas

JOGO DE XADREZ



                                            O xadrez é igual a uma escultura
                                            em que não é só
                                            a massa bruta que conta
                                            e sim, o vazio, os contornos, as sombras.
                                            No xadrez não é só o lance jogado que importa.
                                            O lance não-jogado faz parte do jogo também.
                                            Ele é a sombra da escultura,
                                            o não-ser da arte.
                                            Ele é o processo mental
                                            eletrizado nas nuances
                                            e opções que não puderam ser escolhidas.
                                            O xadrez é infinito.
                                            Um labirinto de escolhas.
                                            Uma trama de espaços.
                                            O xadrez, com suas sombras,
                                            é uma escultura talhada no ar
                                            que o raciocínio
                                            toma de empréstimo
           

                                            FEV/98










quarta-feira, 25 de julho de 2012

EXTRA, EXTRA!!!



Dia nove.
Novas notícias.
Do seu coração
partem tristes novidades para mim:
A partir de agora,
não serão mais emitidas
ondas de luz e calor.
O namoro será interrompido,
os abraços suspensos
e os beijos proibidos.
A partir de agora, diz o decreto:
Não serão permitidos
toques, surpresas e carícias.
Amassos fazem parte do passado.
Revogam-se os amores, as mordidas
e gargalhadas em geral.
A partir de agora,
os sonhos serão silêncio
e o amor será saudade.


06.07.2001

EPÍLOGO



                                   Será que você gosta de mim?
                                   Será que habito os horizontes
                                   e os luares do teu céu?
                                   Será que sou referência suave,
                                   voz de alguém que quer o bem
                                   e procura urgente
                                   o sabor dos beijos teus?
                                   Será que o caos
                                   vai ser o meu cais
                                   e meu barco um ponto inútil,
                                   um pranto fútil?
                                   Vão contar pra mim
                                   o final dessa história?           
                                   Será que eu danço no fim,
                                   sem amor e sem glória?



            5/7/01

DIAGNÓSTICO



Na ante-sala de nossas dores mais febris,
no balcão de atendimento de feridas que não fecham,
a vida nos apresenta um inútil protocolo.
A frieza das horas não dá colo pra ninguém

CANÇÃO PRA TODO MUNDO






                                               Eu ganho dos céus
                                               o dever de ser bom
                                               e de querer somente os azuis.
                                               Eu ganho cores
                                               de todos os lados
                                               e brinco
                                               com os perigos do mundo.
                                               Desenho eternidades
                                               no coração de quem amo
                                                e sigo trilhas
                                               que não me levam a canto algum.
                                               Só assim me desgoverno
                                               e consigo coerência.
                                               Só assim me desconcerto
                                               e recebo encantamentos.
                                               Desligo motores empoeirados
                                               e deixo a poesia
                                               emitir sinais de bem-querer.
                                               Eu vivo assim,
                                               atrás de alquimias
                                               que não expliquem a vida não.



                                               20.04.02

sábado, 14 de julho de 2012

IRMÃO


                                              O meu irmão tem no olhar
                                               a certeza dos luares
                                               e na fala
                                               a vontade dos beijos.
                                               O meu irmão
                                               dá passes de Ademir
                                               e além de tudo,
                                               além do sol e do veludo,
                                               passeia na textura da existência
                                               com doce inquietação
                                               e comunga dos segredos mais sutis
                                               que a terra lhe inspira.
                                               Eu tenho um irmão
                                               que ancora a poesia
                                               na baía dos desejos
                                               e não deixa pra depois
                                               o por do sol do ser humano.



                                   à Cristiano Menezes             

domingo, 8 de julho de 2012

SINAIS




As madrugadas me dão o pretexto.
Vasculho palavras nas entrelinhas de meu texto.
Placas indicam a presença de metáforas.
Daqui pra frente o risco é meu.
Não é possível deixar a vida entre parênteses
e usar figuras de linguagem pra dissecar todas as dores.
Elas são anteriores.
Habitam terras devolutas, atrás da pele dos desejos.
Muitas vezes se camuflam em sinais que não entendo.
Quase sempre são remendos,
reticências que ficaram esquecidas no caminho.
Quem assina o desvario e sobrevive nessa história?


30.06.12

quinta-feira, 21 de junho de 2012

INGREDIENTE


                                                           Aprendi a demolir
                                                           construções
                                                           que não tenham o amor
                                                           como argamassa principal.
                                                           Descobri
                                                           que a matéria do mundo
                                                           não se sustenta
                                                           sem um olhar
                                                           que permita as manhãs.
                                                           Desisti
                                                           de dominar palavras
                                                           que pulam
                                                           de meus sonhos
                                                           e se atiram
                                                           em carne viva
                                                           nos corações desabrigados.

AULA DE LATIM


                                                           Na aula de latim
                                                           penso no sim
                                                           que você me traduz
                                                           e conjugo
                                                           o melhor verbo que há.
                                                           Conjugo o verbo amar,         
                                                           esqueço as declinações
                                                           e só dou bola
                                                           pras inclinações
                                                           que me levam até você

domingo, 17 de junho de 2012

APRENDIZ




                 



                                               Não se aprende doçura
                                               no banco da escola.
                                               Só se acha a eternidade
                                               por acaso.
                                               O mundo é feroz
                                               e não tem pena dos poetas.
                                               O cotidiano grita desaforos.
                                               Os homens devoram cardápios
                                               e mastigam silêncios ritmados.
                                               Querem mesmo é ser amados.
                                               Enquanto isso,
                                               atrás do véu da correria,
                                               passa a vida tão somente...



                                   05.10.06

PEDÁGIO


              Quem quiser se aventurar
               nos versos seus,  que se prepare:              
               São águas revoltas;
                           quem passa por ali
                           tem as vestes rasgadas
                           pela fúria do tempo
                           que nos rodeia
                           com sua matéria
                           de poeira e espanto.
                           Eu recupero o meu encanto
                           e deponho minhas armas
                           diante de um Universo
                           imprevisível e calado!



                07.05.12




ÂNGULO RETO




Meu coração não sabe nada de Geometria.
Ama desmesurado.
Ignora simetrias.
Bate um tambor medieval
no centro de uma aldeia inexistente.
É assim que meu coração se faz presente.
Não são navegáveis os rios
por onde ele passa.
Não são confiáveis as dores
que abraçam as escarpas
e ficam retidas no entorno do mundo.
Não é novidade o grito escondido na pedra.
Seus loucos disfarces em forma de reza.
Sua fome sem nome que seca na terra.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

FRONT


                          




Me sinto só com meus jornais
e o desejo de saber das notícias da aldeia,
dos murais de nossa história.
Me sinto só no meu trabalho,
massacrado pela falta de amigos,
engolido por tarefas movediças.
Me sinto só em minha vida,
gastando os dias de um calendário
que não escolhi,
queimando sonhos em noites
que nem vivi,
vagando por escombros de poemas mal nascidos,
cavando trincheiras de uma guerra já perdida.




15/03/2010

                             

DECRETO




                               Nesta noite de outono,
                               travestida de verão,
                               palavras descem as escadas
                               de meus interiores
                               e desabam, exaustas,
                               na primeira folha de papel.
                               Não controlo
                               o movimento
                               de meus dedos.
                               Expulso meus medos.
                               Proclamo a anarquia
                               a rainha de meus dias
                               e decreto liberdade perpétua  
                               para todos os sonhos.

CHÁ DAS ONZE


                                              O chá das onze no inverno de setembro
                                               acalma a garganta
                                               mas não me deixa ser feliz.
                                               É que ele sublinha a solidão
                                               em que me meti
                                               e acentua a 1ª pessoa
                                               de um singular
                                               que é pouco pra mim.
                                               O chá das onze de uma noite a mais
                                               não entende o meu desalinho,
                                               acha feio esse estar tão sozinho
                                               e me manda dormir
                                               sem saber
                                               que o sabor de que preciso
                                               se chama carinho.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

GOTEIRA





                                                           Não consigo viver
                                                           com o barulho dos dias
                                                           pingando porta a dentro.
                                                           As carrapetas são antigas,
                                                           os mecanismos desgastados;
                                                           as válvulas, de escape            .
                                                           Durante a noite,
                                                           o plic-ploc é infernal.
                                                           Tudo pinga por ali.
                                                           Me levanto, torço panos,
                                                           enxugo dores reincidentes
                                                           e vejo o mundo escoar
                                                           por entre risadas de estrelas
                                                           e um silêncio escuro e meu.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

CARBONO 14






                                               Não quero ser arqueólogo do amor.
                                               Não preciso de sua pré-história.
                                               Não guardo carinhos holográficos
                                               nem beijos de mentira.
                                               Afetos fossilizados
                                               não me trazem emoção.
                                               Minha vida busca
                                               olhares enfeitiçados,
                                               minhas mãos querem
                                               o veludo de outras
                                               e a lentidão de toques
                                               que dizem sim.

ATRÁS DO CÉU






                             Tem dias que não me acho
                              nos mapas da vida
                              e encontro vazio o ninho dos medos.
                              Serão minhas as linhas
                              que atravessam meus desejos?
                              Como posso investigar
                              o formato de meus sonhos
                              se eles mudam de caminho
                              quando vou me aproximar?
                              Existe abrigo para a luz
                              na confusão do coração?
                              Como é que se traduz
                              um querer que não se esgota
                              e sempre acorda
                              antes de mim?
                              Como é que se decifra
                              a matéria dos olhares
                              e a lua que se esconde 
                              atrás do céu de toda vida?