Agora que estamos no século 21, em plena “modernidade”,
embalados por uma outra rede que nos vestiu um uniforme global pasteurizado e
efêmero.
Agora que a comunicação se tornou supostamente mais fácil e
o correio, substituído por um click,
agora que a caixa postal invadiu todos os lares, a sala se encontra vazia ...
Sim, falo da sala de Maricota e do deserto em que se
transformou.
Não há mais piadas no salão nem o ping-pong de palavras
versadas por uma família
que sempre esteve atenta aos movimentos,
que sempre zelou por seus encontros.
Não! Não há mais encontros nem encantos.
Apenas a solidão silenciosa de nossos pais e o amparo
remunerado das acompanhantes.
Para onde foi a alegria? Seqüestraram a poesia? Esquecemos
das raízes?
Alguém aí se lembra de que somos muitos, de que somos dez,
de que também éramos tempestade, mas de que podíamos conjugar o plural de uma
gramática diversa e infinita em seus afagos?
Alguém aí se lembra de que crescemos juntos em uma casa em Botafogo
e de que provamos do mesmo caldo, de que fomos protagonistas de uma história
efervescente, desfiada com leveza por essa dezena de loucos legais?
Sinto falta de todos vocês e fome de um afeto que ficou pela
estrada.
Meu coração está catando os estilhaços dessa explosão e não
vê saída pela frente além daquela que mamãe grudou na gente, que é tão bom de
se mostrar, que não faz mal se derramar, que eu chamo de amor...
à Maria Ottoni (in memoriam)
8.04.02